Caminho de Santiago Francês - 2022

Pois bem malta, após o forum ter ido abaixo por uns tempos, eu segui o exemplo: tive uma rotura no gémeo, e a minha ida a Santiago com a malta do costume na próxima semana (já fazemos isto há 8 anos) fica sem efeito.

Posto isto, e porque venho a adiar este plano desde 2020, ou antes até.. Vou adiar as férias para a 1ª e 2ª semana de agosto, e vou. Acompanhado ou só, mas vou. A ideia é partir de Saint Jean Pied du Port a 31 de julho, e pedalar a ritmos calmos até Santiago (chegada máxima a considerar em 14 de Agosto, para regressar a Portugal, Porto a 15 de agosto máximo).

Se alguém se quiser juntar, é bem vindo. A ideia é ir de mochila as costas, caminho original sem atalhos, dormir em albergues privados (não vou levar saco cama, apenas uma mochila com muda de roupa, higiene pessoal e alguns víveres - e água.

Boas pedaladelas
 

PedroC

Member
Fiz esta primavera pela primeira vez o Caminho de Santiago Francês, também desde Saint Jean, e também 100 % pelo caminho original.

Dormi sempre em albergues.

Para quem gosta de pedalar pelos trilhos é uma experiência fantástica.

Boa viagem.
 
Bom, vamos la atualizar isto pois ha novidades.

Entretanto, com (pouco) treino à mistura, (in)decisões profissionais, acabei por cometer a "loucura" e já comprei a passagem para leon1658764549390.png
Vou sozinho pois claro, eu com a minha verdoscas que espero não me deixe ficar mal. Corrente nova, pneu traseiro novo, selante novo... Esta tudo preparado. Apanho o autocarro a meio do dia, vou relaxado até leon, ja reservei estadia para o primeiro dia. E siga!

Confesso que estou algo ansioso, medroso, tudo em mim se mexe!
A ultima vez que fiz algo assim, antecedeu uma altura de mudanças enorme na minha vida (boas e más), e a situação em que me encontrava profissionalmente era bastante diferente da que me encontro agora. Ah, e isto foi "só" há 2 anos.

As decisões ainda vão ser tomadas entretanto, porém, como nada na vida, tudo é alterável, e eventualmente posso acabar a viagem a mudar a decisão. Ou com a certeza que tomei a decisão correta.

Espero conseguir fazer um relato à altura dos que povoam a internet. Ir sozinho assusta-me por ser muito tempo e fora do "meu" país, mas o chamado já é longo.. muitos anos a planear isto. E na verdade gostaria de fazer desde os pireneus, mas não sozinho, isso seria um desgaste e risco enormes (e mesmo assim ja vou gastar uns dias de férias nesta aventura).

Antes, tenho um fim de semana de caminhada, que espero que nao corra nada mal para nao inviabilizar esta ida.. Em breve posto novidades, ao que espero que seja um dos melhores caminhos de sempre (sem expectativas, pelo menos quero eliminar este desejo da minha lista)
 
Dia 0 - prólogo (viagem de ida Porto - León)
A vida é feita de momentos. Estes momentos podem ser melhores quando os passamos acompanhados, preferencialmente rodeados dos nossos. Da nossa família, dos nossos amigos, dos nossos colegas, dos nossos conhecidos... São estas pessoas o tempero que faz com que cada experiência tenha mais sabor, que valha mais.
Hoje, dia 2 de Agosto, faz 2 anos que terminei a minha primeira peregrinação a Santiago de Compostela a pé. Para quem ja fez uma data delas de bicicleta, a peregrinação a pé foi calma, sem os altos e baixos que a bicicleta proporciona, quiçá monótona. Vicissitudes da vida, essa peregrinação foi um marco de mudanças, boas e menos boas, ou melhor.. Fáceis ou menos fáceis. Se determinado acontecimento não é visto como positivo, é porque a mudança a ele associado ainda não terminou. Filosofias a parte..
Em 2014, ano em que fiz a primeira peregrinação a Santiago dr bicicleta, onde quase desisti ao fim de 30 km feitos debaixo de chuva, mal preparado a todos os níveis (agradeço imenso nessa altura não "me terem deixado" desistir), começou a desenhar se o plano para esta aventura que hoje inicio. Por duas vezes foi planeada, e por duas vezes, por diferentes razões, foi adiada (na segunda vez, apenas para mim, mas ja la vamos).
Pelo meio destes acontecimentos, fiz a minha estreia no campo das peregrinações a solo com uma ida de bicicleta a Fátima, em resultado de uma promessa feita no auge dos meus 18 anos. Foi uma boa experiência, mas não a apreciei tanto quanto isso. Senti me só por várias vezes, e em diversos momentos pensei "mas que raio estou aqui a fazer?". No entanto, e após a chegada ao santuário de Fátima, que nao apreciei propriamente, algo mudou.. Foi a retrospectiva dessa experiência em solitude, solitude esta potenciada pela pandemia que se vivia, que fez mudar algumas convicções e preconceitos, alguns gravados tão fundo quanto consegui auto-percepcionar, e algo me disse que um dia havia de repetir uma bicicletada a solo... O que eu duvidava é que fosse exatamente um dos meus maiores sonhos, a peregrinação a Santiago pelo caminho francês
Voltando ao presente, após 2 tentativas de organizar esta viagem, ambas sem êxito.. Nao há 2 sem 3. As razões para a não concretização foram distintas: se na primeira o grupo de Litrilhos (grandes Litrilhos, um abraço a todos que leiam isto no conforto após a tormenta) foi impedido de ir, isto em pleno ano de 2020 e plena pandemia, na segunda, já neste ano de 2022, apenas eu nao pude juntar-me a eles por razões de saúde (ou de falta dela). No entanto, mal recuperei, divulguei a ideia aqui e acolá (peço desculpa se me esqueci de alguém, não foi por mal!), nao havendo loucos como eu com vontade de pedalar no pico do verão, pus os pés&pneus ao caminho: férias marcadas, bilhete de autocarro comprado, bike pronta a rolar, mochila lean e.. Vamos a isso!
Na verdade, o meu sonho sempre foi o caminho francês "integral", isto é, desde Saint Jean Pied de Port, subir os pirineus, atravessar a meseta espanhola, entrar na Galiza, e por fim Santiago de Compostela. Mas isso seria muita coisa para mim, sobretudo só. Então há que adaptar os planos, e fazer cerca de 1/3 deste sonho já é mais que bom.
A preparação foi fácil, afinal.. Ja la vão 8 anos a planear aventuras ciclistas, e muitos mais anos a preparar aventuras de caminhadas. Haja segurança para eliminar o que consideramos supérfluo, confiar no material, nas capacidades físicas, e um pouco de sorte, porque na verdade, a sorte faz toda a diferença..
Na preparação da bike para a viagem de autocarro, foi preciso algum plástico para proteger a bicicleta durante a viagem de ida, em especial dos tombos na bagageira. Sei que a pegada ecológica nao é a melhor, porém espero compensar com pouco CO2 emitido durante a pedalada.
A viagem de autocarro começa bem, o autocarro atrasou-se 10 minutos, e esse atraso acabou por se propagar na viagem. Eram 13:30 quando o autocarro chegou ao cais de embarque. Ao colocar a bicicleta no porão, vejo que somos 3 ciclistas, todos a solo: uma ciclista que vim a saber chamar se Cármen e que regressa a casa após fazer o caminho de Santiago partindo de León e continuando até ao Porto, no sentido inverso aos caminhos, e um ciclista que não cheguei a saber o nome e que regressava a Chaves depois de pedalar pela costa vicentina. Troquei algumas palavras durante as pausas da viagem, em especial com a Cármen, pois ela é de Leon e interessava me saber onde ela me aconselharia a jantar (embora tenha acabado por ir ao McDonald's porque a viagem demorou imenso e nao quero perder muito tempo para ir descansar e amanhã começar a pedalar o mais cedo possível).
Durante a viagem, o termómetro do autocarro chega a marcar uns expressivos 38 graus. Se o medo do calor aproveita para marcar presença, rapidamente o ponho de lado: pedalo de madrugada, e quando aquecer.. Entretanto o medo do calor foi substituído pelo medo da chuva: ao passar por Benavente, umas grossas pingas de chuva fizeram se ouvir dentro do autocarro. Foi uma tímida aparição. Espero que entre o calor de um lado, e a chuva a coisa se faça sem dificuldade de maior
As longas horas de viagem, intercaladas com as sete paragens que antecedem o meu destino, passam lentamente. São preenchidas de música, de pensamentos diversos e muita expectativa do que aí vem.
A chegada a León foi feita ja de noite, fruto dos sucessivos atrasos. Eram 22:45 quando o autocarro entrou na paragem. Rapidamente tirei a bicicleta da mala do autocarro, peguei na mochila.. E eis que falta desembrulhar e montar a montada, com uma temperatura ambiente de 28 graus. Finda esta tarefa, corta plásticos, monta peças, segui ate ao alojamento que ficava a 1 km da paragem. Check in feito, e como as horas ja iam avançadas, os planos de jantar ficaram se por um hamburguer e uns nuggets no McDonald's.
Amanhã, 6:30h da manhã acordar e sair.. A ver se ainda consigo ter 7h de sono pela frente
 

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Dia 1 - León a El Acebo
Após um sono agitado, com um episódio de chuvas repentinas pelo meio, a hora de acordar chegou.
Rapidamente me ponho pronto e saio a pedalar, com a vontade de abraçar o desafio em níveis altíssimos. Pedalo ate a plaza maior, vejo a catedral ao longe e sei que estou na direcção correta. Chegado la, foto da praxe tirada, decidi tomar o pequeno almoço, já que um queque e uma banana nao se pode considerar um pequeno-almoço digno para fazer quilómetros.
Alimentado, ponho me ao caminho. A saída de León é confusa, acabei a pedalar para oeste sem ver alguma seta durante 5 km, mas la as apanhei.
Fica registada a barraca hospitaleira do Manel, onde carimbei pela primeira vez a credencial. Homem bastante bem disposto, ja tinha andado a trabalhar por Portugal na sua juventude. Um cafe, uma banana e segui viagem.
O caminho nesta zona é essencialmente feito de estradoes, largos e com piso duro e solto. Nao ha declives de assinalar, é tudo muito plano, o que convida a subir as mudanças e o ritmo. Os primeiros 30 km passaram a voar, apenas com 100 e poucos metros de acumulado. As localidades passavam a voar: la virgen del camino, oncina de valdocina, hospital de orbigo.. Tudo locais icónicos e que ja moram no meu imaginário há bastante tempo.
Estas localidades vivem do caminho, este serve para dar nome aos diversos negócios que por la existem.
Entretanto com o avançar das horas, foram abrindo as igrejas, os tascos, e os carimbos foram se acumulando. Hospital de Orbigo foi a primeira igreja onde entrei.
As planícies douradas continuaram, e chegado a astorga comecei a pensar nas minhas opções para dormir. Levava ja 50 km nas pernas, e foncebadon fica a mais 30 e poucos, e uma subida enorme pela frente.. Sinto me fresco, e saber da existência de um albergue com piscina nesta localidade faz me ganhar asas. Reservo o alojamento numa pausa para hidratação e alimentação (ordem de prioridades), e ponho me a caminho. Vem aí a subida ao ponto mais alto do caminho. Desde Leon, tenho andado nos 850-900m de altitude, e vou ter de subir aos 1500m para poder dormir.
Após Astorga, passei por um bar curioso, meson do cowboy. O barman atira a cerveja a deslizar pelo balcão como um autêntico cowboy, pintarolas!
Aqui vi um comportamento que várias vezes me deixou com a impressão que há pessoas a apanharem taxis que as recolhem en sítios menos visíveis do caminho, ou menos povoados, e as levam para localidades à frente. Inclusive vi um táxi parar a minha frente e saírem 3 pessoas do interior, frescas e notóriamente não aptas a caminhar debaixo do sol de castilla e Leon, e seguir caminho e a falarem de onde vão ficar nessa noite. Pode ser erro de julgamento, mas é algo ja ha muito falado.. Vale tudo para fazer, ou dizer que se fez, o caminho.
A semelhança da manhã, as localidades vão se sucedendo rapidamente. O calor aperta, e dou por mim a parar de 15 em 15 minutos para arrefecer. Está bastante quente, e depois de El Ganso o terreno assume uma pendente ligeiramente inclinada que engana ao olhar desatento, mas mói!
Em Rabanal del Camino, visito uma das igrejas mais caricatas no seu interior, muito rústico, adorei. A subida acentuava se, e após ver um par de ciclistas com os quais ja me tinha cruzado anteriormente, disse que me juntava a eles ate foncebadon, sitio onde eles iam almoçar tardiamente (eu já tinha ficado satisfeito em Astorga)
Erro de julgamento, a certa altura o Rafa e o Juan baixaram imenso o ritmo e comecei a esperar por eles ao final de cada subida. La tive de dizer que ia avançar sem eles senão nunca mais chegava, e nisto com a temperatura a rondar os 36 graus, gastei a água toda sem chegar a próxima fonte.
Continuando a subida a um ritmo bem mais rapido, Foncebadon chegou num instante e la consegui água gelada. Soube mesmo bem. Entretanto decidi parar para um lanche improvisado com as coisas que ainda tinha, quando um relâmpago e uns pingos de água fizeram a primeira aparição e anuncio do que viria a apanhar a seguir.
Apressei me a comer e a pôr me ao caminho. Ia com 70 km em cima e a 1300m, faltavam 200m para atingir o topo do caminho de Santiago.
De repente, eis que a vejo: a cruz de ferro. Um ícone! Deixo a minha pedra, simbolismo muito próprio deste local, tiro algumas fotos, uma delas que modéstia a parte, acho que ficou excelente, e sigo viagem, ao que pensava ser o início da descida. Erro meu, ainda subia bastante após a cruz de ferro. Ou melhor, desceu para subir novamente um pouco acima dos 1500m.
Com o aumento da altitude, as paisagens aumentam de qualidade também. A montanha, coberta por um manto de nuvens tempestuosas, é algo incrível..
Entretanto cruzo me com um ciclista que tinha visto em Astorga. Desta vez fiz um julgamento melhor, e ele anda que se farta! Começo a perseguir o Angel, e em conversa percebemos que planeamos ficar no mesmo albergue. Seguimos juntos, e finalmente começamos a descer vertiginosamente até El Acebo, onde iríamos pernoitar. E eis que se junta um terceiro elemento, a chuva.. Forte, bategas grossas. A temperatura baixou, uma típica tempestade de Verão. Acabamos por chegar cedo, 17h, mas impossibilitados de aproveitar a piscina. Ironia, a partir das 19h o tempo melhorou, inclusive aqueceu.. Mas o jantar ia ser servido em breve e a piscina fecha as 21h. E convém descansar para o dia seguinte que se avizinha pior.. Ou potencialmente pior.
Após um óptimo jantar, finalizado com a vista do por do sol, vou descansar.
Resumo do dia:

6:20h de pedal
1250m de desnível positivo
97 km
 

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Dia 2 - El Acebo a Fillobal
Apos uma noite a dormir como uma princesa e um pequeno almoço reforçado, sai com o Angel, que conheci no dia anterior. Eram 7:45h, um pouco mais tarde que o dia anterior, mas tanto o esforço anterior como o facto de esta etapa ser tendencialmente mais curta, não comprometem.
Começamos a pedalar, e as descidas apareceram logo. Os estradoes do primeiro dia deram lugar a single tracks mais estreitos e sinuosos, e rapidamente as pedras tornaram se o piso predominante.
Com a concentração a nível máximo, o sono que restava foi desaparecendo. Travões a fundo, curvas apertadas, nao ha fotos deste trajecto, mas ate Molinaseca foi sempre a descer.
A meio da descida, o Angel viu uns colegas da Guardia Civil, parou e meteu conversa e com isto conseguimos um carimbo extra da Guardia Civil. Nisto fiquei a saber que o Angel é de Carzola, da província de Jaen, que fica no sul de Espanha, e nas suas férias meteu a bike no carro e fez 700 km para chegar a León e partir até Santiago. Este caminho move muita gente.
Continuamos a pedalada até Ponferrada, e neste troço a descida e mais suave, e os caminhos passam por pequenas povoações antigas.
Apos Ponferrada, o caminho levou nos até Villafranca de bierzo. Nesta parte nao ha grandes motivos de atração no caminho, algo urbano, por alcatrão e ligeiramente a subir. Três fatores contra. Visitamos a igreja colegiata de Santa Maria, que domina o horizonte quando se entra na cidade, e continuamos viagem.
Pelo meio, paramos em quase todas as igrejas abertas e em alguns cafés e supermercados para abastecer mantimentos (que bem precisos foram, pelas calorias que gastamos) e fui colecionando carimbos na credencial. Está a ficar bem preenchida!
Aqui, e nao me recordando de o ter feito, seguimos o caminho aconselhado para bicicletas. Fazendo um parêntesis, é frequente existirem opções diferentes para os peregrinos a pé ou em bicicleta. Assim fizemos uma ecopista paralela a N-6 que nos levou numa pendente ligeiramente inclinada durante 15 km ate Trabadelo. Isto evitou a subida até Padrela, e consequentemente a descida, e por um caminho que julgo ser menos urbano (o que não era difícil...)
O caminho foi assim feito com bom ritmo até às Herrerias, onde a paisagem começou a mudar e a se tornar mais rural, sem se ver a N-6 e A-6 que seguem paralelas ao caminho até então, e onde tinha noção que a subida ao inferno verde do Cebreiro começava a sério. Efetivamente confirmou se. Com o calor que se fazia sentir e a fome a apertar, tomamos com gosto a opção das bicicletas, embora so depois me apercebi que essa opção é pela estrada. Fiquei com alguma pena, mas na verdade as melhores paisagens ainda vinham aí..
A subida até La Laguna é dura, exigente e custosa. A cada fonte de água, uma paragem para abastecer, pois o nível estava no mínimo. Subiu se assim, devagar, calmamente com pausas de 100 em 100m (verticais) e la fui fazendo a subida. O Angel adoptou uma estratégia consistente e contínua, ja eu mais de etapas. No final ele chegou à minha frente, mas pouco, não o quis fazer esperar muito. Pelo meio, tive de ir comendo uma tapa que trouxe da última paragem de propósito para esta subida, muito embora ja fossem 13h e tivéssemos planeado almoçar no Cabreiro, que seria daí a meia dúzia de km.
Saindo de La Laguna, voltamos aos trilhos e mais a frente passamos pelo marco que assinala a entrada na Galiza. Estamos oficialmente na região de Santiago!
Eis que chegamos finalmente ao final da subida, e por entre paisagens incríveis, um fresco túnel de árvores e vegetação da nos as boas vindas ao Cebreiro. Curiosamente, ao chegar ao topo encontrei um monte de folhas deixadas perto de uma "alminha", ou uma figura de um santo ao pe da estrada, que continham apontamentos do que me parecia ser álgebra. "costumes daqui" diz o Angel.
Paramos para almoçar no Cebreiro e efetivamente fomos vendo as opções para ficar. O objetivo para hoje, algumas vezes questionado se possível, era fonfría. Estava tudo lotado. Mais 3 km frente, havia um albergue jeitoso livre, em Fillobal. Como esta parte do percurso era a descer (e bem, sabíamos de antemão), e no entanto ainda era cedo e estávamos com força para aguentar a burra a descer, la fomos ate Fillobal.
Depois do Cebreiro, o caminho é feito por uma espécie de single-tracks largos, com curvas ligeiras, subidas e descidas rápidas e acentuadas, que elevavam o ritmo facilmente. Entretanto voltamos a subir mais até ao Alto de S. Roque, e a partir daí.. A descida fenomenal surgiu. Em poucos km, estradoes com piso solto e de pedra e curvas acentuadas descem dos 1300m até 950m. Passamos por fonfría e seguimos a descida, dura e agressiva, ate Fillobal, sempre a ouvir os travões a gemer e chiar com tanto aperto que lhes estavamos a dar.
Este troço do caminho foi diferente de ontem, deu menos espaço para o lado introspectivo e ao mesmo temo a forma de aproveitar o caminho foi diferente. La está, indo acompanhando há mais distracções e outras preocupações a ter em consideração além de apenas pedalar. Por outro lado, o constante desafio e companhia dão um toque que fica bem em qualquer situação. Bem como umas fotos incríveis, fica um registo mais personalizado.
Chegado ao albergue, deu tempo para lavar as bicicletas, lubrificar, e ir jantar, que amanhã há mais.

Fica um resumo do dia:
6:40h de pedal
1503m de desnível positivo
88 km
3697 kcal gastas
 

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Dia 3 - de Fillobal a Melide
O dia começa com um pequeno almoço a inglesa, para condizer com as condições atmosféricas: céu nublado e frio, frio bastante para me fazer desejar ter trazido mais roupa que uns calções, uma t-shirt e um impermeável. Estão 15 graus, contrastantes com os dias anteriores. Também estou a 950m de altitude, e vou baixar aos 400m (o que nao ajuda ja que não se pedala para aquecer)
Por isto mesmo e pelo cansaço que começa a acumular se, o início da aventura de hoje foi apenas as 8:30h
As descidas foram feitas numa velocidade incrível. O caminho era íngreme, largo e com piso duro, rapidamente cheguei a Triacastela, onde fica uma das divisões mais difíceis de optar do caminho.
Ha duas variantes: uma mais curta e mais dura, por San Xil, outra por Samos, mais longa 6 km ate a intersecção em Aguiada, e mais suave. Esta última passa pelo mosteiro de Samos, e diz se que a visão do mosteiro vale a pena o desvio maior. Dito e feito, foi por onde escolhi ir. Nesta altura, apanham me o Angel e o Danny. Se o Angel já me tem acompanhado desde o primeiro dia, o Danny acabou por se juntar pois também ia fazendo o caminho sozinho desde Burgos.
O caminho até o mosteiro de Samos é feito em ligeira descida, interrompida por alguns lances a subir. Li algures que o caminho de Santiago francês tem 3 diferentes estados, consoante a etapa: a Vida, caracterizada como uma constante crescente saindo de S. Jean Pied de Port até ao topo aos Pirineus, atingindo o auge, e uma decrescente ate Pamplona, a Morte, atravessando a meseta espanhola toda, e o Renascimento, entrando na Galiza com as suas subidas e descidas constantes. Nao sei se esta alegoria está correta na minha mente, mas fico feliz por ter apanhado tanto a meseta como a entrada na Galiza com os constantes sobe e desce.
Passado alguns quilómetros dominados por vales verdes cheios de castanheiros, surge no horizonte o mosteiro de Samos. Que visão! É imponente, imerso num verde contrastante com a pedra castanha escura do mosteiro. Não ha muitas palavras para descrever a beleza e a paz que rodeiam este local.
Seguimos viagem, e o verde acompanha nos, bem como a descida ligeira alternada com as subidas até Sarria. Antes de chegarmos lá, fizemos uma paragem num dos locais mais pitorescos do caminho, um pequeno sítio chamado Fonte das Bodas, em que a proprietária além de cozinhar uma tortilha excelente, preservou a memória dos antepassados, mantendo imensos elemento históricos como roupa, mobília, e a própria casa, do tempo da sua bisavó. Segundo ela, a casa terá a volta de 150 anos. Incrível como conseguiu, apesar de segundo ela ser a casa de 8 irmãos, manter intacta tanta história geração após geração, e sobretudo conservada o mais próximo possível do original, ou possível de ser restaurado ao seu estado original. A casa nao tem luz elétrica nem canalizações imbutidas na parede, é tudo exterior para nao estragar a traça original. A mobília está restaurada, e sobretudo as camas muito corretamente ampliadas (antigamente eram todos mais pequenos
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), de modo a poder ser utilizada hoje em dia, como albergue. A própria roupa de cama tem mais de 50 anos, segundo a senhora. Fiquei com vontade de regressar no tempo e passar ali uma noite, deve ser uma óptima experiência.
Após Sarria, o percurso sobe um pouco para após Ferreiros começar uma série de descidas inclinadas, boas para elevar o ritmo cardíaco com a adrenalina, até Portomarin.
Em Portomarin e nesta altura de seca, o rio Minho deixa a descoberto o que resta da antiga cidade medieval submersa algures em 1960. A visão é triste e espetacular, um misto de sentimentos.. A albufeira, lugar de muitos barcos, agora é um riacho, e os barcos repousam na margem, mais ou menos bem encostados.
Desde Sarria que o caminho passou a estar muito mais lotado, por ser a distância mínima que os peregrinos precisam fazer para obter a Compostela. E isto notou se na forma como as cidades maiores como Portomarin estão totalmente lotadas, e o almoço acabou por ser improvisado num supermercado. Coisas do caminho.
Com o estômago satisfeito, foi tempo de iniciar a subida desde Portomarin (350m) ao alto do hospital (700m). Nesta altura, e decorrente do fluxo de peregrinos aumentar exponencialme, apenas consegui reservar sítio para dormir em Melide, a 35km. Com nesta altura 55 km nas pernas, arriscava me a ser a etapa mais longa, e o que eu nao sabia, com mais altimetria. O sobe e desce da Galiza engana bastante...
O Angel acompanhou me nesta decisão, o Danny que entretanto tinha ficado para trás decidiu procurar albergue pouco mais adiante de Portomarin.
A tarde foi assim longa, atravessando pequenos povos rurais e passando por trilhos rodeados de vegetação, quais túneis verdes. Neste troço, e após subir ao alto de Hospital, foi tendencialmente a descer e nesta altura ignorei totalmente as alternativas para bicicletas, que se destinam sobretudo a bicicletas que nao sao aptas para BTT. A alternativa apresentada é parte da Eurovelo3, que é uma rota para ciclistas de estrada que vem desde a Bélgica até Santiago. Pois bem, o que eu quero é monte. Só quando o monte for muito agressivo, sobretudo a subir, é que posso considerar a estrada.
Após longos quilómetros, repletos dos ja habituais sobe-desce, cheguei juntamente com o Angel a Melide, naquela que foi a etapa com mais km e mais acumulado, e a par da anterior, com mais beleza. Fomos comer a uma pulperia um dos famosos polvos, e que bem que nao desilude! De barriga cheia, amanhã teremos a sobremesa, que é um doce de 56 km ate Santiago. Se bem que o doce pode ser algo indigesto, pois dizem que o sobe e desce é mais acentuado após Melide. Amanhã confirmo..
Um resumo do dia:
7:09h de pedal
1729m de desnível positivo
95 km
3706 kcal gastas
 

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Dia 4 - Melide a Santiago de Compostela
Esta aventura tem sido uma epopeia crescente: crescente no tempo de pedalada, nos km percorridos, na altimetria acumulada e nas calorias queimadas. No quarto dia, quebrei os padrões, excepto na hora de sair. Confiante nos 50 km que faltam, sai eram ja 9h da manhã. Na verdade, o cansaço nao deixou começar mais cedo, mesmo após dormir bem, ja são muitos km em cima, as pernas ja doem em vários sítios, os ombros massacrados apesar de ja moldados à mochila, queixam se com a sua presença.
Saindo de Melide, começamos logo a sentir a ondulação do terreno. O sobe e desce constante alternado vai incrementando o acumulado, e ultrapasso as localidades a velocidades diferentes devido a essa condição: a subir, vêem se as localidades com detalhe, para baixo.. Depende do grau de adrenalina que se pretenda sentir.
Após estes dias de pedalada, começando logo por locais mais emblemáticos como a Cruz de ferro, o Cebreiro ou o mosteiro de Samos, ha um "defeito" a apontar ao caminho: habitua nos mal. A paisagem galega é extraordinária, muito verde, e este troço caracteriza se pelos imensos túneis de vegetação que rodeiam o caminho e dão uma sombra valiosa num dia que está um pouco mais quente que os dois anteriores.
A multidão vai engrossando e no meio dos peregrinos surgem mais bicigrinos, com bicicletas de montanha, estrada, cidade.. Enfim, todos os géneros e feitios. Estes troços finais do caminho são fáceis, e quando não o são, existe uma alternativa assinalada como caminho complementar.
Apos Arzua, entramos no maior desnível desta etapa, chegando a Pino, baixamos até aos 270m, o ponto mais baixo desta etapa. Pouco adiante, aparece o paraíso da cerveja: um bar completamente coberto por garrafas de cerveja. Tal é o espetáculo, que nao tomar uma é imperdoável!
A seguir, começamos uma subida gradual até ao aeroporto de Santiago, que está situado 100m acima. Não custa muito, mas o cansaço acumulado ja faz mossa, e apos esta subida paro a cerca de 15 km de Santiago para a única pausa matinal. Levo ja uns 40 km em cima, e escolho um cafe perto da igreja de San Paio para esse momento de repouso. Está quase no fim, e sinto que mal comecei. O cansaço diz o contrário, mas esta viagem está a ser tão diferente, e por ser o concretizar de um sonho ha tanto adiado, o efeito turbilhão ainda é maior. Entretanto cruza se comigo o Angel, que tinha ficado para trás, e decido acompanha lo. Fizemos uma grande parte do caminho juntos, portanto termina lo juntos também faz sentido.
Rapidamente resolvo parar, eis o marco dos 10 km, Santiago está quase... Agora é em estilo contagem decrescente!
Chegado ao topo do monte do gozo.. Eis o vislumbrar da catedral, está ja ali! A descida é íngreme e por asfalto, por entre os magotes de peregrinos. Rapidamente se ultrapassa o caminho entre os arredores orientais da cidade, que nunca tinha visitado, e a cidade velha central, já muito conhecida. A abrir caminho pela multidão, eis a catedral, e fim do caminho...
Após umas fotos rápidas, seguimos à oficina do Peregrino para obter a Compostela e finalizar assim o caminho de forma oficial.
Apos isso sim, alimentar nos com um pulpo (nao como o da noite anterior, o da Pulperia Ezequiel é fenomenal)
Em jeito de epílogo, já no albergue onde vou ficar até amanhã regressar ao Porto, o que dizer, depois de começar a sonhar com este caminho desde 2014, o planear para 2020 e cancelar, replanear para 2022 e cancelar novamente, e subitamente fazê lo dois meses mais tarde? Não ha muitas palavras, além que foi um objectivo cumprido. Um objetivo que por vezes duvidei, inclusive recentemente quando nao pude mesmo ir. A nível de treino, ele ja ca estava, apesar dos 2 meses parado e com uma lesão. Ou então.. O maior treino é mesmo mental, e esse efetivamente está e sempre esteve em alta.
Mais virão, de que género.. Nao sei. Quanto ao caminho, é incrível, é mesmo o rei dos caminhos de Santiago, pela beleza, dureza e pelo espírito que vive. Valeu a pena esperar por isto...

Em jeito de resumo, desta vez das 4 etapas juntas (a de hoje sozinha foi fraquinha):
24:19h de pedal
5494m de desnível positivo
337 km
12329 kcal gastas
 

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Bom relato.
podias explicar um pouco da logística? percebi que só levas uma mochila, qual o peso? o que levas? como organizas?
Viva Nabodopedal (bom nick a proposito :D)
Sendo verão, levei o seguinte material, organizado assim:

MOCHILA 30L:
- Kit higiene pessoal (desodorizante (quase a terminar para ser leve) + 75 ml champô + pasta dentes viagem + escova + pacote lenços)
- calções corrida + tshirt + havaianas (para andar após pedalar com uma roupa limpa)
- calções + tshirt (para bicicleta e dormir com a roupa do dia a seguir, lavada)
- Par de meias extra
- Detergente para lavar roupa
- 6 molas roupa
- Kit 1ºs socorros decathlon
- Manta térmica decathlon
- Bomba suspensão
- 250ml flask com água (emergência)
- 8-10 Barras energéticas
- Fruta (quando consegui arranjar)
- Impermeável
- Powerbank 5000mah + carregador do telemovel, GPS e powerbank (cabos)
- Protetor solar
- Capa impermeável para mochila
- Credencial peregrino
- Aloquete bicicleta


BOLSA 2L BIKE:
- Bomba pneus + 2 cartuchos CO2
- Câmara de ar extra
- Multi-tool pequeno (com extrator de elos corrente e chaves habitualmente utilizaveis)
- Elo rápido extra
- pastilhas travão extra
- Zip ties (~12)
- Desmonta pneus
- Cera para lubrificar corrente
- escova de dentes cortada para limpar corrente do pó
- 600ml bidon (na bike)

Portanto a bike foi leve q.b., e às costas levei 5-6 kg, conforme punha mais fruta ou menos. Na foto que estou em Santiago com a bike as costas vê-se exatamente todo material que levei, sem tirar nem por, bem como na primeira foto com a bicicleta embalada, vê-se claramente o tamanho da mochila. Na mochila foi tudo à larga, com bastante espaço extra (julgo que conseguisse por a mesma quantidade de coisas numa mochila de 20L.

A nível de peso, não sofri dos ombros, apesar de ter terminado a viagem com eles um pouco massacrados. Nunca pensei em retirar peso (ao contrário de outras vezes), e se a coisa mais densa é a água, mantive o flask 250ml sempre cheio a viagem toda (inclusive recorri a ele uma vez, ao terminar a subida a cruz de ferro, que fiz em ritmo mais lento, que o calor extremo fez com que em 3-4 km bebesse 600ml da bike, que tinha cheio numa fonte a meio caminho, e antes de foncebandón terminei a água). No caminho todo, fazendo uma boa gestão, com 600ml faz-se bem, posso dizer que só fiquei sem água uns 10-15 min.

Como não uso pedais de encaixe, levei apenas as sapatilhas que usava para pedalar e andar, sendo verão a quantidade de roupa a levar e diminuta. Lavei a roupa com detergente que levei (no lavatório de onde ficava) todas as noites, e sendo roupa sintética seca num instante (envolver com a toalha de banho uns 10 min antes de por a secar para retirar a humidade extra)

Para mim, é a solução perfeita. Não senti falta de nada, não posso dizer que fui extremamente confortável e comodo, ou que a roupa ficava impecavelmente lavada, e se fosse no inverno provavelmente teria de ir lavar e secar a roupa a uma lavandaria (exequível, todos os sitios onde fiquei tem esse serviço). Claro que iria ser mais caro, mas para mim, e sublinho esta parte, para mim, não faz sentido andar com alforges na bicicleta, alem de serem caros, tiram manobrabilidade a bike, e muito menos sentido faz carregar com mais de 5-6 kg. Já o fiz com bastante mais peso, 7-8 kg ou até mais, e dessa forma posso dizer que sou algo experiente em pedaladas com mochila as costas (inclusive esta mochila é confortável e não me incomoda utilizar com o capacete, como já anteriormente senti), e fui reduzindo o material ao mínimo. Não usei metade das coisas, sobretudo da bike: em todos estes 300km não enchi pneus nem suspensão, apenas colocava cera ao final de cada dia (após passar a escova na corrente).

Fiquei feliz pois julgo ter atingido um minimalismo em que o risco de reduzir o material vs o que se ganha não compensa. Claro que azares acontecem... Mas assim estou prevenido para os maiores.

A nivel de alojamento, albergues vistos todos no booking, em que o preço maximo foi 20 euros a noite. Prefiro pagar mais para ter algum conforto (toalhas, roupa de cama, lugar para guardar a bike), sendo que o sitio para deixar a bike era sempre confirmado antecipadamente com uma chamada. Embora, esta questão se resolva sempre guardando a bike no quarto, tanto como na noite em león, como fiz na noite que fiquei no albergue do monte do gozo, em santiago. Camarata de 6 camas, pus a bike no fundo do quarto presa pelo aloquete ao pe da minha cama :)

Em 330 km, zero furos (abençoado tubeless, vi que funcionou bem por alguns pequenos furos no pneu onde saiu algum liquido), zero problemas. Pus uma corrente nova para evitar quebras e desgaste excessivo, mas na verdade isso posso considerar manutenção normal (a anterior tinha quase 2000 km e ja estava a bater no 0,5% de alongamento)
 
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